Café de la Music

0c

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Em uma das Avenidas mais "bacanas" da cidade, encontra-se o maior Instituto Médico Legal de Curitiba. Nessa grande via, com sentido duplo, restaurantes, lojas de carros, hotéis, estacionamentos, esparramam-se por todos os lados. Trata-se pois, do metro-quadrado mais caro dessa cidade. Vida urbana intensa durante o dia e durante a noite. Nos finais de semana, após as 20 horas, é muito comum haver cortejo fúnebre engarrafando esta Avenida. A maioria dos carros que aí cortejam são compatíveis ao valor do metro-quadrado transitado. Nesse último sábado é que percebi a existência desse famigerado IML. Deixe-me explicar pois é bastante interessante. Os cadáveres que ali se encontram, dispõem de suas próprias identificações. Enfileirados e congelados, aguardam sua vez para adentrar ao recinto, pacientemente em uma fila quilométrica dispondo de seus documentos e de uma quantia bastante exorbitante somente para a "verificação" do lugar. Mulheres ali pagam menos que os homens e ficam felizes por isso. Talvez muitas delas tenham um dia pensado em "direitos iguais". Com seus corpos semi-cobertos aguentam o agudo frio invernal que aquela noite proporcionava sem sequer tilintar o queixo. Como conseguiam? Estariam elas completamente paralisadas e impossibilitadas de qualquer fração de movimento? Não sei.. Funestamente diregem-se ao guichê, homens e mulheres. Os "mais importantes" passam na frente. Ninguém reclama. Nenhuma queixa. Agora estão todos os corpos dispersos para dentro do Instituto. A música é frenética, compassada, contínua e repetitiva. Como num transe os corpos se agitam. Todos da mesma forma. Não há diferença em seus comportamentos. Mimeticamente dançam e bebem. Uns até vomitam, mas apenas os "mais importantes", pois ali, o mililitro alcoólico é o mais caro assim como o metro-quadrado já mencionado. Esses "mais importantes" ficam dispostos em uma área reservada exclusivamente para eles, mas pagam por isso. Pagam uma quantia fora da órbita para que possam ser "apreciados" e percebidos pelos demais cadáveres. Há um chefe de cerimônia que comanda a música ritimadamente sorumbática. O chefe do transe coletivo agita as mãos e os zumbis também o fazem. O chefe do transe coletivo sacode o esqueleto e os zumbis também o fazem. Ninguém conversa. Ninguém reclama. Ninguém olha. Ninguém discute. Não há discordância de opinião. Nem mesmo há opinião. Ah! É claro, me esqueci... Morto não reage, está morto, sem vida, apagado, sem atividade, desvanecido, dissipado, esmorecido... Quando tiveres vontade de participar de um ritual infaustosamente macabro, IML Café de La Musique!


SEJA O PRIMEIRO A COMENTAR!

DICAS PARA COMENTÁRIOS!
Os comentários não serão moderados,portanto, usufrua de modo inteligente e criativo deste espaço para discussão de idéias.

-Evite propagandas de sites e blogs.
-Para contatar os autores envie-os e-mails.
-Seja criativo e procure comentar relacionado à postagem.

DIVIRTA-SE

Inicio Feed Twitter E-mail Favoritos Email Email

Antiniilina 2009. Alguns Direitos Reservados.
Termos de Uso | Política de Privacidade | | Projeto | Expediente | Contato | BB