Em uma das Avenidas mais "bacanas" da cidade, encontra-se o maior Instituto Médico Legal de Curitiba. Nessa grande via, com sentido duplo, restaurantes, lojas de carros, hotéis, estacionamentos, esparramam-se por todos os lados. Trata-se pois, do metro-quadrado mais caro dessa cidade. Vida urbana intensa durante o dia e durante a noite. Nos finais de semana, após as 20 horas, é muito comum haver cortejo fúnebre engarrafando esta Avenida. A maioria dos carros que aí cortejam são compatíveis ao valor do metro-quadrado transitado. Nesse último sábado é que percebi a existência desse famigerado IML. Deixe-me explicar pois é bastante interessante. Os cadáveres que ali se encontram, dispõem de suas próprias identificações. Enfileirados e congelados, aguardam sua vez para adentrar ao recinto, pacientemente em uma fila quilométrica dispondo de seus documentos e de uma quantia bastante exorbitante somente para a "verificação" do lugar. Mulheres ali pagam menos que os homens e ficam felizes por isso. Talvez muitas delas tenham um dia pensado em "direitos iguais". Com seus corpos semi-cobertos aguentam o agudo frio invernal que aquela noite proporcionava sem sequer tilintar o queixo. Como conseguiam? Estariam elas completamente paralisadas e impossibilitadas de qualquer fração de movimento? Não sei.. Funestamente diregem-se ao guichê, homens e mulheres. Os "mais importantes" passam na frente. Ninguém reclama. Nenhuma queixa. Agora estão todos os corpos dispersos para dentro do Instituto. A música é frenética, compassada, contínua e repetitiva. Como num transe os corpos se agitam. Todos da mesma forma. Não há diferença em seus comportamentos. Mimeticamente dançam e bebem. Uns até vomitam, mas apenas os "mais importantes", pois ali, o mililitro alcoólico é o mais caro assim como o metro-quadrado já mencionado. Esses "mais importantes" ficam dispostos em uma área reservada exclusivamente para eles, mas pagam por isso. Pagam uma quantia fora da órbita para que possam ser "apreciados" e percebidos pelos demais cadáveres. Há um chefe de cerimônia que comanda a música ritimadamente sorumbática. O chefe do transe coletivo agita as mãos e os zumbis também o fazem. O chefe do transe coletivo sacode o esqueleto e os zumbis também o fazem. Ninguém conversa. Ninguém reclama. Ninguém olha. Ninguém discute. Não há discordância de opinião. Nem mesmo há opinião. Ah! É claro, me esqueci... Morto não reage, está morto, sem vida, apagado, sem atividade, desvanecido, dissipado, esmorecido... Quando tiveres vontade de participar de um ritual infaustosamente macabro, IML Café de La Musique!
Café de la Music
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Postado por
Vanessa Sossélla
às
16:58
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